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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Gabriela

O dia estava claro, o céu bem azul; a brisa suave fazia refrescar. Passos curtos e sem pressa de chegar. Fazia questão de observar tudo a sua volta. Gabriela se sentia radiante. Parecia que todo aquele dia tinha sido feito especialmente para ela. Tudo estava a seu favor. Eram sorrisos para todos os lados, olhar cativante, maças do rosto rosadas como se quisessem convencer de que tinha a pureza de uma linda manha de primavera toda contida em seu rosto. Ela não estava ansiosa por nada, pois acordou simplesmente com o desejo de deixar que o dia guiasse seus sentimentos, pensamentos, desejos e vontades. Tudo então se fez um só. Uma mistura de tudo o que ela estava sentindo com aquele dia maravilhoso que estava por vir. Estava tudo na dose ideal, tão perfeita que a cada passo dado irradiava uma onda de magia e todo mundo e o mundo todo parecia parar pra admirá-la. Mal sabia ela o que o dia lhe reservava.
Indo para escola, como de costume, ela andava sempre ate o ponto onde pegava uma van, pois a escola ficava em outra cidade. Era sempre muito educada e dava boa tarde ao motorista mesmo sem conhecê-lo. Sentava-se sempre perto da janela, gostava de admirar a paisagem e deixar fluir o pensamento e nem me atrevo a imaginar o que se passava em sua mente. Criativa que só ela, era capaz de vivenciar um lindo e dramático romance num trecho de 20 minutos ate a escola e quando acordava de seu transe a expressão em seu lindo rosto fazia acreditar que tudo aquilo tinha sido mais do que um simples devaneio do pensamento. Parecia tão real que poderia facilmente convencer a qualquer um.Mas nesse dia algo de diferente aconteceu. Ao entrar na van e se sentar perto da janela ela ouviu uma voz que mais parecia o sussurro de uma linda melodia que estava por se iniciar. Era como um som numa imensidão de silencio. Como o eco dentro de uma caverna que antes de se fazer ecoar toca em todas as partes da mesma. Assim aconteceu com ela. Quando aquela doce voz penetrou em seus ouvidos pode percorrer toda a extensão do seu corpo, não deixou de tocar numa parte se quer. Gabi estremeceu. Lutou para tentar entender o que estava acontecendo e parecer um pouco normal e responder educadamente ao “Boa Tarde” daquele ser místico que lhe desafiava com sua voz incrivelmente sedutora. Em instantes ela já não estava mais tão radiante, já não parecia mais ter o controle da situação. Suas mãos suavam, sua boca estava seca, as pernas trêmulas. Em poucos segundos o pensamento de Gabi voou a quilômetros. Não conseguia compreender como ele era capaz de modificar toda a atmosfera a sua volta com apenas a sua voz. Como ele era capaz de penetrar no mais intimo de seu ser sem ao menos tocá-la. Isso a deixou confusa. Mas logo voltou a si e o respondeu com um pouco de desprezo. Não conseguia disfarçar o que o seu corpo fazia questão de demonstrar. Ela queria encará-lo para obter as respostas para as perguntas que vinham em sua mente, mas não conseguia se mexer. Tentou então apenas virar os olhos, mas era uma tarefa impossível. Parecia que ele estava controlando os seus movimentos. Sentia que se conseguisse olhar para ele com certeza perderia os sentidos. Ele exercia uma força sobre ela. Mas que tipo de força? De onde vinha isso? Aquela atração era tão forte que somente alguém com muito poder poderia controlar. Era tão forte que lhe faltava o ar, o coração batia tão depressa que parecia querer saltar peito a fora.
Gabia não desistiu, queria olhar sua face mais uma vez, nem que aquilo lhe custasse a morte. Queria mergulhar no rio de seus olhos e ver sua alma. Ela reuniu todas as forças que tinha e se virou depressa. Olhou-o por longos 3 segundos, mas o suficiente para ficar em transe. Seja lá o que ele fosse, seu rosto parecia de um anjo, sua boca perfeitamente desenhada combinava de forma harmoniosa com os seus olhos. Aaah os seus olhos, eram como o rio que havia dentro daquela caverna; águas tão claras e tão profundas. Gabi queria mergulhar, mergulhar fundo, mas não sabia como fazê-lo. Ele era bem mais forte que ela e não permitiu que ela o olhasse por mais do que aquele tempo. Ouviu então um som, um emaranhado de palavras emboladas e sem qualquer sentido. Ela sabia que ele havia lhe perguntado algo, mas não conseguia achar as palavras em sua mente, para responder. Seu corpo estava estático. Os pelos do braço eriçados. Respirou fundo, tentou manter a voz firme, mas as palavras saíram depressa de sua boca; trêmulas como se tivessem embriagadas. Ele havia lhe perguntado a respeito do local onde ela ficaria. Mal conseguia se lembrar do que tinha respondido porque as palavras saíram tão depressa que nem teve como controlar. Permaneceu o restante do trajeto calada, olhar fixo. Tentava penas entender se aquilo era real ou fruto de sua imaginação.
Num piscar de olhos ela já estava em frente a escola. Não sabia se descia da van ou se falava com ele, qualquer coisa que fosse, apenas para ouvir a sua voz novamente. Mexeu no cabelo, respirou fundo, saiu da van e andou depressa como se estivesse atrasada. Seja lá o que fosse aquele ser, ela decidiu que não se entregaria àquela explosiva atração. Podia sentir os olhos dele a fitá-la sem compreensão. Teve que se esforçar para não voltar trás em sua decisão. Mas conforme andava percebia que ele estava cada vez mais distante. Quando olhou para trás seus olhos já não podiam vê-lo. Quando se virou para frente caiu em um buraco escuro e continuou caindo e caindo, por alguns segundos imaginou que aquele buraco não tinham fim; quando de repente bateu no chão, abriu os olhos e viu uma fresta de luz e foi em sua direção. Chegando ate ela percebeu que era uma passagem e atravessou por ela. Quando o fez percebeu que estava num sonho. E ao passar por aquele pequeno espaço de luz voltou a realidade.

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